Tietê (água boa, volumoso) é o nome de um rio que teve grande importância na história de São Paulo, pois permitiu a interiorização da colonização, ampliando os limites da América portuguesa. Também chamado no passado de Rio Grande e Anhembi ou Anhambi, o rio Tietê, o maior do planalto, com 1 100 quilômetros de extensão, é um rio muito sinuoso, com uma longa série de corredeiras e cachoeiras que recebe um grande número de afluentes.
Após a década de 1950, o rio Tietê transformou-se em um esgoto a céu aberto na cidade. Hoje em dia, são despejadas diariamente cerca de 134 toneladas de lixo inorgânico em suas águas, e o índice de oxigênio na água é zero. Após algumas iniciativas de revitalização, o rio Tietê volta a dar sinais de vida somente depois da cidade de Salto.
Rio Tietê (Anhembi) em 1905.
Rio Tietê na cidade de Salto (SP), 2015.
Texto a seguir publicado no jornal Folha de São Paulo em novembro de 2011, apesar de antigo, nao mudou muito nos ultimos 4 anos e a situação continua a mesma em 2015.
O ano era 1992. Chitãozinho & Xororó cantavam em propaganda do governo de SP que a população poderia, enfim, voltar a nadar no Tietê. Mais otimista, o governador Luiz Antônio Fleury Filho disse que um dia beberia do rio e que, na sua gestão, reduziria em 50% a sua poluição por conta do Projeto Tietê, o mais ambicioso plano ambiental da história de SP.
O ano é 2010. Quase duas décadas e US$ 1,6 bilhão depois, a água do Tietê no trecho que atravessa a Grande São Paulo está ainda pior.
O quadro, detectado em avaliação anual da Cetesb, mostra que ele segue feio (turvo), sujo (lixo e esgoto) e malvado (transmite doenças). Dos seis pontos monitorados desde 1992, cinco estavam piores em 2010. Dos nove avaliados hoje, quatro são péssimos e três, ruins. Os dois bons ficam perto da nascente, em Salesópolis (101 km de SP).
A Folha usou o IQA (Índice de Qualidade das Águas), o mais amplo dos indicadores apurados pela Cetesb, que leva em conta nove parâmetros, entre eles quantidade de oxigênio e coliformes fecais.
Em quase toda a região, as taxas de oxigênio ficaram perto de zero, o que inviabiliza qualquer tipo de vida. Ou seja, o Tietê – que em tupi-guarani, ironicamente, é “água boa” ou “rio verdadeiro” – é ainda um rio morto.
E não é o único: o cenário é o mesmo em todos os rios da capital, como Pinheiros, Tamanduateí e Aricanduva.
Apesar dos investimentos em esgoto, é grande o número de domicílios não ligados à rede – de favelas à beira de córregos a condomínios de luxo na zona oeste da cidade.
Nas duas primeiras fases do plano – a terceira vai de 2010 a 2015 –, a Sabesp priorizou a montagem estrutural da rede, como a construção de três estações de esgoto (eram duas), redes coletoras e interceptores, entre outros.
O volume de esgoto tratado quadruplicou e incluiu 8,5 milhões de habitantes. “É a população de Londres”, diz Carlos Eduardo Carrela, superintendente de Gestão de Projetos Especiais da Sabesp.
Parece muito, mas está abaixo da meta (18 milhões) e atinge só 50% da população. Dez cidades, como Guarulhos e Barueri, não tratavam nada do esgoto em 2010. “É como na era medieval. O cocô é jogado no rio, o importante é ir embora da minha casa”, diz Mario Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, que monitora o plano desde o início.
Outro fator foi que a população cresceu (em 5 milhões) e, com ela, problemas como lixo e poluição do ar (chuva ácida), que já respondem por 30% da poluição do rio.
A situação do rio Tietê é dramática, mas poderia ser pior se não tivesse havido o plano de despoluição, segundo avaliação da Sabesp. “Como estaria o rio se nada tivesse sido feito? Seria mais 1,5 milhão de litros de esgoto por dia chegando ao rio sem tratamento”, diz Carlos Eduardo Carrela, superintendente de Gestão de Projetos Especiais da companhia.
Para ele, na região é “muito difícil” perceber o que já foi feito. “Pode até aparecer uma melhora no relatório, um ponto aqui, um ponto ali, mas a sensação é que realmente não melhorou.”
De acordo com ele, o plano está sendo executado dentro da concepção inicial, que era construir as estações de tratamento na primeira etapa e investir bastante na segunda fase para transportar o esgoto a essas estações. “A terceira etapa é uma sequência, agora para o anel externo da metrópole, cada vez mais longe, cada vez mais caro e cada vez mais em regiões complicadas”, diz. A previsão é gastar US$ 1,05 bilhão.
Segundo a Sabesp, antes, a mancha de poluição da Grande SP ia até Barra Bonita (267 km da capital). Hoje, recuou 160 km, até Salto. A melhora é pequena, mas perceptível nos últimos cinco anos em Tietê, cidade a 145 km da capital que deve o nome ao rio, segundo Antônio Reginaldo Salvador, o Nei, 47, do Grupo Ecológico Tietê.
“Há cerca de 15 anos o rio ficou crítico. De uns cinco anos para cá, melhorou muito, ano a ano, mas ainda está longe de chegar ao ideal.”
Na cidade, o rio tem mais vida que na capital. A Folha viu peixes saltando na água e outros animais, como patos, paturis, cágados, capivaras e garças em boa quantidade. Mas havia também uma quantidade enorme de lixo, principalmente sacolas plásticas e garrafas PET, trazido, segundo relato de moradores, da região metropolitana.
Apesar da existência de peixes, o rio perdeu quase todos os ranchos que tinha às margens e ninguém se arrisca a pescar no trecho hoje.
Versão Light:
Menu Simplificado para Celular
Top 100:
Páginas mais acessadas nos últimos 30 dias.
By Sanderlei Silveira
© 2023 - Sanderlei Silveira. Todos os Direitos Reservados. | Política de Privacidade